
🔥 MANIFESTO FAF POA 2025 🔥
Este ano decidimos como tema GENTRIFICAÇÃO e NECROPOLÍTICA, algo que está acontecendo muito nesse território.
O que é GENTRIFICAÇÃO? É o processo de expulsão por diversos meios, da população trabalhadora da região, e aos poucos, vai sendo tomada pelos mais ricos. Com a retirada de pessoas mais pobres, o bairro fica mais atrativo para as empresas, com rendimentos maiores. Há a demolição das casas das antigas moradoras para dar lugar a torres de apartamentos e comércios elitizados. Também há a pressão dos mercados imobiliários, no aumento dos aluguéis e para que as pessoas vendam suas casas.
Estamos vivendo desalojos de territórios de luta e ancestrais, dando lugar ao concreto cinza que só serve aos poderosos. Bairros sendo invadidos por condomínios de luxo como Alphaville na Restinga, ou mesmo a destruição de florestas para dar lugar a negócios como a Floresta do Sabará sendo destruída pela companhia Zaffari. Também a gentrificação se fez e ainda se faz presente tanto nas diversas ameaças e expulsões forçadas do Quilombo Kédi pela companhia Zaffari, quanto do Quilombo Areal da Baronesa e a Ilhota da década de 60. Da Vila Tronco, com as magníficas “obras da Copa” revelando as redes de esgoto, à Vila Dique, cujos moradores caminham 10 km até o posto de saúde mais próximo. Nas últimas décadas, a cidade tem visto a expansão de grandes empreendimentos imobiliários com grande número de casas ou diversas torres, como o Terra Nova Nature. Em outubro de 2015, a Câmara de Vereadores de Porto Alegre aprovou uma alteração no Plano Diretor, para autorizar a construção de condomínios de luxo, mais de duas mil casas e um polo comercial em uma área de 426 hectares que faz parte da Fazenda do Arado, propriedade localizada entre os bairros Belém Novo e Lami. Nesse território está a Retomada da Ponta do Arado, da etnia Mbyá Guarani, que vem lutando para a demarcação de seu território ancestral. Em 2025 o museu Joaquim José Felizardo e a prefeitura de Porto Alegre desalojaram a Kasa Okupa ContraKultural Jiboia, um espaço Contra-cultural Anarquista para dar lugar a um suposto anexo que sabemos muito bem que será mais um espaço de comércio e de food-trucks para os visitantes do museu. Também em 2025 a prefeitura derrubou galpões na Vila dos Papeleiros e no bairro São Geraldo, com grande truculência, na região do 4 distrito, que foi “revitalizada” para atender às altas demandas de lucro em bares e casas de festas. Todas essas obras de “revitalização” que não é nada mais nada menos que capitali$mo.
Espaços PÚBLICOS que faziam parte da vida da população estão se tornando espaços PRIVADOS, como mesmo o próprio Cais Mauá e também a Usina do Gasômetro. A privatização da companhia elétrica – CEEE Equatorial, e também a tramitação de um projeto para privatizar inclusive o LIXO de Porto Alegre, excluindo as pessoas que são principais responsáveis por fazer a reciclagem e contribuem diretamente com o meio-ambiente, como as pessoas catadoras, que sobrevivem diretamente desse trabalho. Já se está falando de privatizar também o DMAE, que é público e que lida com a distribuição, reabastecimento e tratamento de água e esgoto da cidade.
O que é NECROPOLÍTICA? Necropolítica é um conceito cunhado pelo filósofo Achille Mbembe que faz referência ao uso do poder social e político para decretar como algumas pessoas podem viver e como outras devem morrer; ou seja, na distribuição desigual da oportunidade de viver e morrer no sistema capitalista atual. A necropolítica é mais do que o direito de matar, é também sujeitar pessoas à morte por diversas formas, como a escravidão, o apartheid, a colonização da Palestina, e à preconceitos que levam à morte, como a homolesbotransfobia, xenofobia, racismo, machismo, capacitismo, etc. Nesse contexto de gentrificação desse território, todas essas políticas e práticas que estamos discutindo se relacionam à Necropolítica, uma política de extermínio e morte estimulada pelos “avanços capitalistas”.
Se faz importante e necessário esse debate e a construção de práticas e estratégias para o combate. Nós nos organizamos com base no ANARCOFEMINISMO, apartir da horizontalidade, da autogestão, do apoio-mútuo, da autonomia para construir um espaço onde possamos re-pensar nossos modos de ser e estar no mundo e a como RESISTIR aos enfrentamentos com o poder. Rechaçamos veementemente a forma como a cidade vem se desenvolvendo, este território cada vez menos popular, menos dos quilombos e dos povos originários, menos das matas e florestas, menos de outres animais que aqui habitam, menos da ocupação das ruas, menos das mulheres e população LGBTQIAP+, menos dos movimentos artísticos =contra= culturais, e mais das empresas, mais dos poderosos, mais de quem já detém muitos privilégios, mais da urbanização, mais do empilhamento de pessoas, mais do concreto cinza e sufocante.
Ocupamos as ruas desde sempre com nossa arte e luta, e temos sido reprimides e sufocades, nos restringindo cada vez mais ao âmbito privado, particular, PAGO. A quem serve esse suposto desenvolvimento? A quem serve esse tipo de cidade? Isso sem falar da grande enchente que passamos em 2024 e que até agora a política da cidade continua sendo a de DEVASTAR AINDA MAIS o ecossistema que já está em colapso.
Chamamos à essa Feira Anarquista Feminista a denunciar e ativar novas estratégias de RETOMADA e RE-OCUPAÇÃO DA CIDADE, para o combate ao sistema que quer nos destruir. Chamamos à articulação de ideias, propostas, movimentos, coletividades, artes e manifestações a construir y desconstruir esse território. Nos unirmos entre mulheres e dissidências a partir das nossas lutas e ativar nossas vidas. ESSE TERRITÓRIO TAMBÉM É NOSSO!
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